sábado, 19 de setembro de 2015

Resenha Semanal

Por Soraya Goulard


AS DORES DO MUNDO

Ficha Catalográfica:As dores do mundo: LEAL, José Carlos. Rio de Janeiro: Lorenz, 2014.
Preço na LIVRARIA YVONE DO AMARAL PEREIRA: R$ 20,00.

Leal traça um “painel” das interpretações do conceito de dor sob o viés de duas vertentes: a diacrônica, em que vai buscar a compreensão do conceito no passado (Velho Testamento, tragédias gregas), e a sincrônica, que trata da questão na cultura contemporânea.

Nesse entrecruzamento, permeado por exemplos ímpares, nascem as três leituras principais, cujo cerne visa a desfazer a equação “dor = mal”:
1)      A que atribui a dor a um castigo divino, tendo Deus e/ou os deuses como mandantes;
2)      A que atribui a dor a Satanás e/ou a seus representantes (monstros e figuras mitológicas amedrontadoras);
3)      A que atribui a dor ao próprio homem, como consequência de suas atitudes equivocadas, quer no nível pessoal, quer no social.

Leal explica as duas formas do mal: “Um cósmico ou metafísico e outro social ou físico. No primeiro caso, está o mal enquanto princípio imanente do universo, que se opõe à divindade, e, no segundo caso, encontra-se o mal enquanto desvio de caráter, o que se traduz, normalmente, pela palavra maldade ou malfeito” (p. 51).
A concepção que relaciona o mal quer a Deus quer ao demônio vem estabelecida na cultura judaico-cristã. Por exemplo: em todos os tempos, a literatura relata tanto a necessidade de reconhecimento do Anticristo quanto a expulsão e/ou a incorporação de demônios que “possuíam” a criatura, deixando-a em estado obsessivo.

Jesus, ao associar Deus à figura do Pai Amoroso, quebra totalmente o paradigma de um Deus vingativo, que castiga e que “manda” o sofrimento, bem situado na máxima do “olho por olho, dente por dente”, a qual cede lugar à terapia do amor – a Deus, a si próprio e ao outro.

“Jesus acreditava que o Pai, por ser AMOR, não poderia castigar o homem com o sofrimento. De onde, então, provém o sofrimento? Qual é a causa da dor humana, segundo Jesus? A resposta de Jesus para essa questão é muito clara, simples e objetiva: o sofrimento humano não tem a sua causa fora do homem, mas dentro dele. Trata-se de uma relação de causa e efeito em que o sofrimento é o efeito do comportamento desviante” (p. 33).

Em outras palavras, o homem sofre por sua “incapacidade de escolher e de tomar decisões acertadas” (p. 47). Leal chama atenção para a contribuição essencial da Doutrina Espírita ao explicar as causas para o sofrimento. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, a pergunta “QUAL A ORIGEM DAS AFLIÇÕES QUE SE SUCEDEM EM NOSSA VIDA?” traz a seguinte resposta: “Tem duas origens bem diferentes: umas têm sua causa na vida atual e outras em vidas passadas”. Mais uma pergunta se segue, com resposta clara: “O QUE DEVEMOS FAZER DIANTE DOS MALES QUE NOS AFLIGEM? Fazer uma sincera autoanálise. Pois ela nos mostra nossa responsabilidade na maioria desses males e, então, com muita humildade devemos corrigi-los em nosso próprio benefício”.

Leal ressalta que daí se podem detectar maus usos do livre-arbítrio na vida presente, que vão desde uma falsa autoavaliação, passando pela perda de si mesmo diante do poder e do apego aos bens materiais, até a incapacidade para mudanças e consequente cultivo do orgulho. Para cada um desses e demais itens, o autor tece considerações à luz do Espiritismo.
Sobre as causas anteriores da aflição, Kardec vem em socorro ao trazer a concepção do períspirito, que tem a característica de registrar os desvios das leis divinas.
As dores do mundo é um livro abrangente ao abarcar as principais abordagens da dor, além de recolocá-la à luz do Espiritismo, não como um mal, mas como um instrumento de progresso.

“Essas experiências sofridas e duras não são um castigo de Deus nem são, a rigor, um mal para o espírito, muito pelo contrário. O sofrimento é um bem, uma vez que tem por objetivo corrigir o espírito endurecido no mal, fazê-lo compreender que está errado e que necessita mudar sua vida” (p. 116).

Mais adiante, completa: “Não devemos acreditar, entretanto, que o sofrimento por si só seja garantia do progresso de um espírito. Não é o sofrimento que produz progresso, mas o modo como nós o encaramos” (p. 121).
Tais esclarecimentos permitem lembrar que a felicidade é fruto de gradual crescimento íntimo cuja prática, em geral, é lenta e dependente de contínua transformação.
Os ensinamentos de Jesus, mais uma vez, vêm encerrar esta resenha.
Em Jerusalém, os fariseus Lhe fazem esta pergunta: Quando virá o Reino de Deus? Respondendo-lhes, o Mestre disse: “O Reino de Deus não virá com mostras algumas exteriores; nem dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo acolá, porque o Reino de Deus está dentro de vós” (Lu, 17: 20-21).


Boa leitura a todos!


LIVRARIA YVONNE DO AMARAL PEREIRA
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