sábado, 27 de junho de 2015

Resenha Semanal

Por Soraya Goulart



AVE, CRISTO!: EPISÓDIOS DA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO NO SÉCULO III


Ficha Catalográfica: EMMANUEL (Espírito), psicografado por XAVIER, Francisco Cândido. Brasília: FEB, 2014.
Preço na LIVRARIA YVONNE DO AMARAL PEREIRA: R$36,00.



“Ave, Cristo!” dá prosseguimento à saga de Emmanuel, na sua trajetória terrena como parte do grupo de primeiros cristãos. Dessa vez, ele assume encarnar como Quinto Varro, com o claro objetivo de conduzir o filho Taciano no caminho do bem, de acordo com os preceitos de Jesus. Contudo, sua esposa Cintia é a primeira a criticar sua postura, já que aspira a uma vida de riquezas e prazeres, promovendo, com isso, a cisão familiar: “Sempre o Cristo!... Sempre o Cristo!... Lembra-te de que nossa condição social é miserável... Foge à punição dos deuses, rendendo culto a Cesar, para que a fortuna nos favoreça. Estou doente, alquebrada... Não tenho vocação para cruz! Detesto os nazarenos, que esperam o Céu entre discussões e piolhos! (p. 29).


Varro vê-se no furacão de grandes conflitos morais que não lhe cabe resolver; é a imagem do humano diante da impotência em meio a acontecimentos desastrosos cuja solução ele entrega com fé ao alto, sob a crença de que “cada homem é um espírito eterno em crescimento para a glória celestial” (p. 139). Assim, mesmo sabendo-se marcado para morrer a mando do amante de sua mulher, parte em viagem marítima fatídica. Contudo, em seu lugar, morre o velho Corvino, de quem Varro assume a identidade.

Impressionantes as semelhanças constatadas na narrativa entre o século III (décadas de 210 a 250) e os dias de hoje, para citar apenas algumas:


a) A morte de cristãos por se declararem seguidores da Boa Nova. Há poucos meses (fev./2015), em pleno século XXI, novamente o mundo assistiu atônito ao mesmo fenômeno, o que vem reforçar o quanto as palavras de Jesus mexem com estruturas arcaicas e apontam caminhos revolucionários de mais liberdade, igualdade e fraternidade (“– O legado de Augusto não pode perder tempo. Sacrificai aos deuses e o processo que vos envolve o nome será extinto atenciosamente; – Não posso – insistiu Corvino, sem afetação – sou adepto do Cristianismo e nessa condição desejo morrer; – Morreis então – gritou Álcio indignado”, pp. 131-132). 


b) A grave crise econômica, provocada, em geral, pelas más administrações e pela concentração de riquezas, impulsionando o desemprego ou o subemprego (“Ninguém desejava ocupar braços honestos com remuneração condigna. Alegava-se que os tempos corriam difíceis”, p. 44).

c) O desafio de aliar-se fé e razão (“O Evangelho, examinado por ele (Taciano) (...) parecia-lhe um amontoado de ensinamentos incompreensíveis, destinados a sombrear o mundo, caso vencessem na esfera da Filosofia e da Religião. (...) Poderia um patrício – pensava ele – amar um escravo como se fosse a si mesmo? Seria justo perdoar aos inimigos, com pleno olvido da ofensa? Seria aconselhável dar sem retribuição?”, pp. 68-69).

d) A impotência e, ao mesmo tempo, a fraternidade humana frente a eventos de naturezas diversas (“O Império vivia assolado por uma peste que procedia do Oriente, fazendo vítimas inumeráveis. Em Roma, a situação era das mais graves. A epidemia penetrara as Gálias, e a comunidade cristã, em Lyon, mobilizava todos os recursos para amenizar os problemas do povo”, p. 83).

e) O prevalecimento da ignorância e da educação falha (“E enquanto os deuses de pedra absorvem os favores da fortuna, alongam-se a miséria e a ignorância do povo, reclamando o pronunciamento do Céu”, p. 12). 

Tal como atualmente, mais do que nunca, é preciso “enxergar” para além da sucessão de fatos sofridos que, de repente, assola o cotidiano e tomar como referência o que há de mais precioso no processo: a misericórdia divina, que nunca abandona seus tutelados (sujeito e/ou sociedade), e coloca à disposição a assistência espiritual dos Benfeitores, de modo a sustentar todos os propósitos nobres e os sonhos humanos de superação e de crescimento, por mais humildes que sejam! 

A nova reencarnação de Quinto Varro, somente 11 anos depois de seu desencarne como Quinto Celso, para continuar assistindo ao filho Taciano é prova ímpar do fato. 

“Pela misericórdia do Senhor, tornara à existência corpórea, retomara o veículo da carne e, espírito eterno metamorfoseado em Quinto Celso, reassumira a direção do destino de Taciano, impelindo-o para Jesus, consoante seu antigo ideal... Cerca de quarenta e quatro anos haviam passado desde que Taciano renascera... e o trabalho do amor continuava diligente e sublime” (p. 296).

Paralelamente ao amparo do Alto, lá no começo da história, quem dá a Quinto Varro, a chave para prosseguir sem temores é o velho Corvino, o amigo que a “vida” dispôs a morrer em seu lugar, no navio: “Contudo, é indispensável amar muito para, antes, vencermos a nós mesmos. (...). Quem exercita a compreensão do Evangelho acende lume no próprio coração para clarear a senda dos entes queridos, na Terra ou além da morte...” (pp. 55-56). 

O início do poema de Marta (In: Antologia mediúnica de Natal, cap. 24, psicografia de Chico Xavier) retrata hoje o espírito do cristianismo primitivo em sua essência e vem reforçar a lição do Amor que a Humanidade recebeu d’Ele, Jesus, o Mestre Maior! 


Jesus foi na Terra

a mais perfeita encarnação do Amor Divino.

E ainda hoje,
nos dias amargurados que transcorrem,
é para a Humanidade
a promessa de Paz,
o manto protetor
que abriga os aflitos e os infelizes,
o pão que sacia os esfomeados das verdades eternas,
a fonte que desaltera todos os sofredores.




Boa leitura a todos!










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