Por Soraya Goulard
VolteiFicha Catalográfica: IRMÃO JACOB (Espírito), psicografado por XAVIER, Francisco Cândido. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 2005.
Preço na Livraria Yvonne do Amaral Pereira: R$ 26,00.
Narrado na primeira pessoa, “Voltei”, de Irmão Jacob, aborda temas delicados: tendência de certos dirigentes e trabalhadores espíritas em acolherem, ampararem e evangelizarem o OUTRO e esquecerem os cuidados essenciais para CONSIGO mesmos; dificuldades e facilidades na transição do fenômeno biológico da morte; reajustamento à vida espiritual; intercâmbio mediúnico; conquista da luz interior.
Quando encarnado, no ofício de atender muitas pessoas, Jacob adotara conduta distante, mesmo seca, abrindo uma lacuna entre o que falava e o que fazia. Prevendo a morte, modificou-se. “Estimava a pregação da caridade, convicto, porém, de que a energia seca era indispensável nas relações humanas. Muitas vezes, na intimidade de companheiros encarnados e entidades desencarnadas, sentira-me ríspido, contundente. Fazia frequentemente o possível por não desmerecer a confiança dos que me estimavam; entretanto, nem sempre sabia ser doce na extensão da personalidade. (...) Prostrado, agora, inesperada sensibilidade passou a dirigir-me. A renovação de caminhos obrigava-se a esquecer negócios e interesses terrenos” (pp. 27-28).
Homem empreendedor e de grande sucesso, Frederico Figner (Irmão Jacob) havia sido dono das Casas Edson, a primeira gravadora de discos (para gramofones!) brasileira, mais tarde, a Odeon. Viveu toda a efervescência da Belle Époque, período marcado pelas transformações urbanísticas e tecnológicas no Rio de Janeiro. Já desencarnado, percebe que entre a teoria e a prática havia, primeiro, um caminho a ser trilhado: o do aprimoramento íntimo. “– Nesse serviço novo, Jacob, procure ser menino outra vez. Não guarde ideias preconcebidas. Esqueça o homem de negócios que foi, olvide a sua posição de comandante com subordinados e pessoas agradecidas à sua disposição. (...) De mente lavada e fresca, você aprenderá melhor o sentido da vida real” (pp. 158-159).
Assim, auxiliado pela filha Marta, pelo orientador Andrade e pelo Dr. Bezerra de Menezes, descreve suas tentativas de adaptação à vida espiritual, numa série de medidas adotadas: repouso, refazimento junto ao mar, oração, persistência em pensamentos positivos, trabalho junto aos irmãos em esferas mais densas. “Achávamos agora num campo diferente de matéria, onde só os conquistadores de si mesmos, no supremo bem ao próximo, guardavam posição de realce e domínio. Enquanto no plano carnal, poderíamos gastar a sagrada força da vida, lisonjeando os prazeres da plenitude física, esquecidos de exercitar as energias internas. Aqui, porém, éramos obrigados a reajustar, apressadamente, o cabedal de nossos recursos íntimos, centralizando-os na sublimação da vida...” (p. 68).
De linguagem fácil, o livro está dividido em 20 pequenos capítulos que, por sua vez, se subdividem em 5 itens, imprimindo dinâmica e rapidez à narrativa. Conforme os esclarecimentos recebidos são colocados em prática, a transformação íntima efetua-se de forma natural. Sua luz finalmente brilha, e Jacob compreende a importância do perdão e da caridade. “Nunca talvez como naqueles momentos me senti tão fortemente interessado por alguém, qual se estivesse disputando auxílio para irmãos ou filhos de meu próprio ser. (...) Sobreviera o imprevisto. Tomado de assombro, verifiquei que branda luz de um roxo carregado brilhava em torno de mim” (p. 184).
Muito longe de ser um “tratado do bom comportamento”, “Voltei” fala da “caridade em ação” ao lado da “autodisciplina”, rumo ao progresso. Como diz Emmanuel, “é necessário instalar o governo de nós mesmos em qualquer posição da vida. O problema fundamental é de vontade forte para conosco e de boa vontade para com os nossos irmãos” (In: Pão Nosso, p. 328).
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