quinta-feira, 2 de abril de 2015

Resenha Semanal

Por Soraya Goulard

HÁ DOIS MIL ANOS: EPISÓDIOS DA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO NO SÉCULO I
 &
 CINQUENTA ANOS DEPOIS: EPISÓDIOS DA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO NO SÉCULO II

Ficha Catalográfica: EMMANUEL (Espírito), psicografado por XAVIER, Francisco Cândido. Brasília: FEB, 2013.

Preços na LIVRARIA YVONE DO AMARAL PEREIRA: R$36,00 (Há dois mil anos - HDMA) e R$ 34,00 (Cinquenta anos depois - CAD).

Por que as leituras desses dois livros de Emmanuel emocionam tanto e ficam tão fortemente registradas na memória?
Alguém poderia alegar que o estilo masculino e vigoroso do escritor faz com que se formem, na mente do leitor, imagens nítidas e cinematográficas (Ao tempo do Cristo, seu aspecto (de Jerusalém) era quase igual ao que hoje se observa. Apenas a colina de Mizpa, com as suas tradições suaves e lindas, representava um recanto verde e alegre, no qual repousavam os olhos do forasteiro, longe da aridez e da ingratidão das paisagens – HDMA, p. 41).
Outra resposta poderia ser a riqueza contida nas múltiplas marcas narrativas:
* Histórica – baseada em fatos reais, a narrativa é primorosa recomposição da época em que se deram os primeiros embates entre a materialidade romana e o emergente cristianismo. Todos os acontecimentos estão ali: a morte de Jesus, as lutas dos primeiros cristãos, os circos romanos...
* Sociopolítica – descrição da estrutura de poder e dos homens que a sustentavam. Os conchavos políticos nos bastidores, sempre visando a vantagens, quer rumo à ascensão social, quer de ordem financeira. Clãs e castas (aristocracia leiga e sacerdotal) e suas relações com as demais classes sociais: escravos, serviçais, prestadores de serviços, comerciantes. (O Império, fundado por Augusto, havia limitado os poderes senatoriais, cujos detentores já não exerciam nenhuma influência direta nos assuntos privativos do governo imperial, mas mantivera a hereditariedade dos títulos e dignidades das famílias patrícias, estabelecendo as mais nítidas linhas de separação das classes, na hierarquia social – HDMA, pp. 25-26).
* Familiar – costumes e hábitos cultivados no lar e hierarquias entre os que viviam sob o mesmo teto, incluindo os serviçais. (As duas senhoras organizam aprestos de viagem, corrigindo defeitos de algumas peças de lã e trocando impressões íntimas, a meia voz, em tom amigo e discreto – HDMA, p. 28).
* Econômica – sistema de cobranças de impostos, principalmente dos trabalhadores autônomos e dos comerciantes (agrônomos, pescadores,
pecuaristas, militares, professores, médicos), sem falar dos não assalariados (servos judeus e escravos pagãos). O pagamento de contratos escusos era comum. (A consulente abriu a bolsa bem provida, deixando cair grande porção de moedas na trípode (peça de três pés onde a pitonisa pronunciava seus oráculos), como se despejasse ali uma catadupa (jorro) de sestércios (valor de um-quarto de denário), ao passo que a velha bruxa arregalava os olhos, na cupidez e na ambição dos seus baixos sentimentos – CAD, p. 76).
* Religiosa – Os templos dos deuses e os rituais de adoração a eles, em confronto com a crença do Deus único. As primeiras reuniões para leitura e comentário das palavras de Jesus. (Célia, minha querida (...), levei-te hoje aos Templos de Júpiter e de Serápis, onde ofereci sacrifícios em favor de nossa felicidade (...). Notei que acompanhava os meus gestos e, todavia, não demonstravas devoção sincera e ardente. Acaso, trouxeste da província alguma ideia nova, contrária às nossas crenças?!... (...) Sim, avô, guardo agora a minha fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo – CAD, pp. 33-35). 
Também existe o fato de tratar-se da vida do benfeitor espiritual Emmanuel em duas encarnações: como o orgulhoso senador Publius Lentulus, ocupante de alto cargo na Palestina, e como o escravo Nestório, um servo liberto encarregado da educação de duas jovens nobres. As tramas desenvolvem-se nos embates entre os sentimentos de vingança, cupidez, maledicência, por um lado, e os de mudança íntima, renúncia, arrependimento, por outro.
Contudo, a par das várias respostas possíveis à pergunta inicial desta resenha, um fato é incontestável: paira, sobre os dois livros, a força espiritual das divinas lições do Mestre de Nazaré e, em consequência, as mudanças, de diversas ordens (moral, psíquica, educacional etc.), que elas promoveram rumo ao progresso do Planeta. Exemplo maior pode ser lido no encontro de Lívia com Ele, no “Sermão da Montanha”: A esposa do senador não pôde mais despregar os olhos deslumbrados daquela figura simples e maravilhosa. Começara o Mestre um sermão de beleza inconfundível e suas palavras pareciam tocar os espíritos mais empedernidos, figurando-se que os ensinamentos ressoavam nas devesas de toda a Galileia, ecoando pelo mundo inteiro, previamente modelados para caminhar no mundo com a própria eternidade: “Bem-aventurados...” (HDMA, p. 97). 

Boa leitura a todos!

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